468x60

.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sem abastecimento, cidade do RN tem 'vale água' para amenizar colapso


Cada casa de Ipueira tem direito a 120 litros de água potável por semana.
Servidor que controla a distribuição no local já foi ameaçado de levar surra.

Ozawa Brasil mostra cartão que a prefeitura de Ipueira, RN, criou para controlar distribuição de água para a população (Foto: Anderson Barbosa/G1)

O colapso no abastecimento de água levou a Prefeitura de Ipueira, município distante 320 quilômetros de Natal, a instituir um "cartão vale água". Com ele, cada residência tem direito a 120 litros de água potável por semana. O controle passou a vigorar há três meses e já virou caso de polícia na cidade.

Osawa Brasil, servidor público que controla a distribuição de água potável, foi ameaçado de levar uma surra por um morador da cidade. A ameaça foi registrada em boletim de ocorrência na delegacia da cidade e o caso foi encaminhado para o Ministério Público. Há duas semanas um dos moradores, segundo o servidor, enfrentou fila para receber a água e se achou no direito de receber mais litros do que os demais e o ameaçou. "Ele queria mais que os outros, então me agrediu verbalmente, me xingou e ameaçou até de me dar uma surra. Então dei queixa dele na polícia", afirmou Osawa.
"Essa água potável é a única coisa aqui nessa cidade que é igual para todo mundo. Não importa se é a casa do prefeito ou de um gari, a minha ou a do padre. Todos temos um cartão e, com ele, só podemos pegar os 120 litros semanais", assegurou.
pueira fica na região do Seridó, na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba. Além dela, outras oito cidades potiguares estão com colapso no abastecimento. O G1 foi a essas nove cidades na semana passada.
A água potável vem de um dessalinizador doado à cidade pela Funasa. A máquina tem capacidade de produzir 1.200 litros de água potável por hora. "Mas, como nossos poços estão secando muito rapidamente, resolvemos diminuir essa produção há 40 dias. Foi quando criamos o cartão vale água", explicou Osawa Brasil.
Em Ipueira, a água do dessalinizador é usada para consumo e para cozinhar. Para lavar roupa e a casa, a maioria dos moradores pega água em caixas comunitárias espalhadas pela cidade. "A nossa rotina aqui é essa: todos os dias acordamos e vamos logo nos preparando para pegar água nas caixas. Tanto que nem damos bom dia mais aos vizinhos. Nosso cumprimento agora é perguntar se tem água na caixa", disse a dona de casa Marina Medeiros, de 40 anos.
Solteira e mãe de dois filhos, ela divide as atribuições da casa com a mãe. "Como ela já é velhinha, eu é que vou à caixa pegar a água. Também lavo toda a roupa da casa, porque é um serviço pesado para a minha mãe. Ela me ajuda cozinhando um pouco e cuidando das crianças". O único rendimento da casa vem do programa Bolsa Família.
O sacrifício de pegar água na caixa todos os dias também é grande para João Bosco de Araújo, de 47 anos. Aposentado por invalidez por causa de um problema na coluna, Bosco carrega diariamente latas d'água para abastecer a casa dele. "Minha mulher já faz coisas demais e meus filhos são pequenos para ajudar nessa luta. Mesmo aposentado por causa dessa dor na coluna, tenho que me sacrificar. A única esperança nossa é que Deus mande água e que a ela volte a chegar às nossas casas pelas torneiras", afirmou.
Ipueira está com colapso no abastecimento desde agosto passado. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) diz que o abastecimento só será retomado normalmente quando tiver capacidade de retirar água das barragens da região.
Projeto de adutora é selecionado, diz prefeito
Para o prefeito Paulo de Brito, a solução definitiva para o problema da falta d'água no município, consequência da seca que atinge toda a região, é a construção de uma adutora a partir da barragem de Santo Antônio, localizada no município de São João do Sabugi. "Dezessete quilômetros nos separa da barragem, que tem capacidade para 65 milhões de metros cúbicos de água", explicou.

Ainda de acordo com o prefeito, um projeto que pede a construção da adutora foi selecionado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) com a promessa de ser implementado em 2014. "Vai custar cerca de R$ 3,5 milhões", acrescentou.
Moradores recorrem a caixas comunitárias para conseguir água (Foto: Anderson Barbosa/G1)


Nenhum comentário:

Postar um comentário