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quinta-feira, 31 de outubro de 2013


O BRASIL DO BOLSA FAMÍLIA

Foi Josué de Castro, médico e brilhante intelectual pernambucano do século XX, quem primeiro conceituou dentro de bases científicas o problema da fome no Brasil. Lançado em 1946, a obra-prima de Castro, o livro “Geografia da Fome”, desconectou a questão da explicações estéreis propagadas pela religião e disseminadas pela ignorância política. Pela lógica vigente de então, a fome ou era um castigo de Deus ou uma imposição da natureza – quando não os dois.

Josué de Castro demonstrou que o flagelo da fome decorria, isso sim, das ações dos homens, de suas opções políticas e da condução econômica que estes, uma vez no governo, impingiam ao País. O livro de Castro ganhou o mundo e deu-lhe reconhecimento internacional, mas ao contrariar o pensamento dominante de um Brasil comandado por latifundiários e políticos com especial aptidão ao servilismo e à indigência intelectual, acabou se tornando persona non grata entre as elites locais. Em 1964, teve os direitos políticos cassados pelos golpistas militares e exilou-se em Paris, na França, onde foi convidado a lecionar na Universidade da Sorbonne. Lá, morreu, em 1973.

Foi preciso que o Brasil fizesse uma longa e dolorosa travessia da ditadura para a democracia para que, três décadas depois da morte de Josué Castro, fosse possível ao País eleger um presidente capaz de fazer a transposição dos conceitos do “Geografia da Fome” para o campo das políticas sociais de fato. Assim, em 2003, outro pernambucano, ele mesmo vítima da fome à qual, historicamente, havia sido relegada a maior parte da sociedade brasileira, chegaria à Presidência da República com um objetivo tão claro como inusitado: fazer com que todos os cidadãos brasileiros fizessem, no mínimo, três refeições diárias.

O discurso de Lula foi na contramão de tudo que o cidadão estava acostumado a ouvir desde sempre, na Colônia, no Império e na República: discursos empolados sobre assuntos distantes e fantasias mirabolantes sobre um país do futuro que, curiosamente, não conseguia se libertar do atraso ao qual era atrelado, justamente, por seus governantes.

Ao invés de falar de grandes obras, Lula falou de comida.

Era urgente e necessário, antes de se projetar o País ao mundo, antes de se listar as incontáveis precariedades da infraestrutura nacional, que as pessoas comessem.

Era preciso que, antes de infestar a nação com promessas grandiloquentes, as crianças fossem para a escola alimentadas, nutridas, felizes.

O Bolsa Família é a consequência direta e consolidada dessa disposição política que se iniciou, há uma década, com o embrionário Fome Zero. Considerada a mais bem feita e organizada política de transferência de renda do mundo, o programa atinge 50 milhões de pessoas e tornou-se o mais poderoso fator de inserção social e econômica já da história do País. É uma marca tão poderosa dos governos do PT que mesmo a oposição, em épocas de eleição, não ousa propor o seu fim, mas copiá-lo e melhorá-lo, embora sem nenhum argumento minimamente objetivo para fazer nem uma coisa nem outra.

Todos os indicadores apurados sobre o Bolsa Família demonstram ser o programa um indutor de desenvolvimento social e de melhoraria de qualidade de vida de parcelas populacionais que, antes dele, estavam condenadas à subcidadania e à miséria absoluta. Ao completar 10 anos, o programa continua a cumprir essa função de reduzir, por obra de uma ação do Estado, as disparidades sociais ainda vigentes no Brasil, o que o torna ainda tão importante como fundamental.

“Quem critica o Bolsa Família é porque nunca passou fome”.

A frase, definitiva, é de Lula, dita ao lado da presidenta Dilma, na festa de 10 aos do programa.


Nem poderia ser diferente.


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